domingo, 28 de fevereiro de 2021

Está bem visto

 

“A cultura, de um modo geral, não sendo uma panaceia, dá-nos armas para enfrentar a brutalidade que todos carregamos cá dentro”

Victoria Camps (filósofa catalã)






terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Da fragilidade do que vale a pena

Estranho livro aquele que escreveste! Triste...
-Foi o possível, tranquei-me em casa, numa noite de pandemia, aconcheguei-me debaixo das escalas pentatónicas do BB King e do Ray Charles e só saí depois de esvaziar uma London dry que me devolveu liquidez ao raciocínio, e me permitiu desatar, devagarinho e com verdade, a sexta nota no violão.
-O que é que te passou pela cabeça?
-Isso mesmo. O que me passou? Que tudo no mundo passa, tudo é frágil e efémero, como uma nota blue.
Sabe-se lá de onde um beijo vem. Sabe-se lá para onde o silêncio vai, quando calamos o que sentimos.
- E chegaste a alguma conclusão?
-Provavelmente, para o mesmo lugar. Um prestes a partir e outro quase a chegar, sem, no entanto, nunca se encontrarem. Se isso acontecesse, se algum dia se cruzassem, seria perigoso, já pensaste?
Há-de haver algures, numa estação perdida em algum lugar do mundo, uma agulha que Alguém comande que impeça esse tipo de acidentes. Que recolha cuidadosamente, uma a uma, as palavras que ninguém ouviu, e desvie cada nota de perfume de jasmim desperdiçado no jardim deserto, para outra via. Um Entendimento mais que perfeito, que converta qualquer dissonância num acorde improvável, antes de o voltar a lançar ao vento. Um Maestro velho e bondoso, de ouvido atento, que interrompa as palavras cruzadas para dar atenção às desarmonias, afinando e reconduzindo carinhosamente cada nota solta a um novo lugar da partitura.
-Não estás a fazer sentido. Ninguém quer ler sobre isso.
-Pouco me importa que aquilo que escrevi naquela noite infinita desapareça aos primeiros raios de sol. Que as palavras firmes impressas a negro sólido desvaneçam, frágeis, sem deixar rasto, como as marcas da felicidade a dançar na areia, em noite de maré cheia. Tudo o que é eterno se compõe, decompõe e recompõe.
Só o que é frágil permanece indelével na nossa memória.
Eva Niceday
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domingo, 21 de fevereiro de 2021

A propósito da chuva

 AFONSO CRUZ

*CREIO QUE O GUARDA-CHUVA*
"Creio que o guarda-chuva é uma excelente invenção. Repare: não é um objecto que acabe com a chuva, é sim algo que evita a chuva individualmente. Não gosto dela, mas não acabo com ela, não a destruo. O guarda-chuva é uma filosofia que usamos no quotidiano. A água continua a cair nos campos, apenas evito que me estrague o penteado. É um objecto bondoso, que não magoa ninguém."
Flores, 2.ª edição, Companhia das Letras, Lisboa, 2017.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

(W)eyes wide open

A Sophia para a Carmen

"Mar, metade da minha alma é feita de maresia


Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras."
                                                                                Sophia de Mello Breyner

domingo, 14 de fevereiro de 2021

O privilégio do Ser




Por não sei que privilégio,

os gatos conhecem 

a eternidade.

Nuno Júdice In "Assinar a Pele" (antologia de poesia contemporânea sobre gatos) Ed. Assírio Alvim


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Are you there, Major Tom ?

Ai Margarita ...

 

Ingredientes
1 colher (café) de açúcar
30 ml de Cointreau
30 ml de sumo de lima
60 ml de tequila
Gelo
Para a borda:
Limão
Sal

Modo de preparação

1Numa coqueteleira, coloque o gelo, o açúcar, o Cointreau, o sumo de lima e a tequila. Agite até o copo ficar gelado. 

2Passe limão na borda do copo. Coloque sal em um prato raso e mergulhe a borda do copo. 

3Coloque o coquetel no copo, sem o gelo. 

 

Quem dança ?



David Bowie & Mick Jagger - Dancing In The Streets (Official Video)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 Leitura nocturna (a ver se não se transforma na biografia não autorizada da humanidade em geral e da população do bairro em particular...)


Zombie vac

Vacina anti dormência- primeira toma



acompanha bem com uma mistura de dois dedos de moscatel e meio cálice de boa conversa ou o contrário

The Cranberries - Zombie (Official Music Video) - YouTube

ENd

Dica: Manter longe do alcance dos outros

 

  • Esta parece que vem a despropósito, mas pensando bem é bastante adequada. O segredo está no conhaque ...


  • Chocolate quente com conhaque ...

  • Ingredientes:

    1 litro de leite

    1 lata de leite condensado

    1 pacote de natas

    2 ou 3 doses de conhaque ou a gosto

    7 ou 8 colheres de chocolate em pó

    Modo de preparação:
    Coloque o chocolate em pó em uma leiteira e leve ao fogo baixo. Quando começar a derreter, junte o leite condensado e as natas, mexendo sempre. 
    Assim que levantar fervura, adicione a metade do conhaque e todo o leite, mexa bem. A dose de conhaque depende do gosto de cada um. 


Acompanha bem com o jantar




Vou contar-vos um conto sem acrescentar um ponto

Começou 

Continuou

Acabou

Lisboa ainda


Lisboa não tem beijos nem abraços

não tem risos nem esplanadas

não tem passos

nem raparigas e rapazes de mãos dadas

tem praças cheias de ninguém

ainda tem sol mas não tem

nem gaivota de Amália nem canoa

sem restaurantes sem bares nem cinemas

ainda é fado ainda é poemas

fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa

cidade aberta

ainda é Lisboa de Pessoa Alegre e triste

e em cada rua deserta

ainda resiste.


(Manuel Alegre, 20 de Março de 2020)

Aos que já foram mas que ficaram






Ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos

que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.

E, desde então, as nossas feridas têm a espessura

do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas

a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete

continua engelhado, como à tua ida.

Provavelmente ficará assim           para sempre.


No outro Natal, quando a casa se encheu por causa

das crianças e um de nós ocupou a cabeceira,

não cheguei a saber

se era para tornar a festa menos dolorosa,

se para voltar a sentir o quente do teu colo.

 (Maria do Rosário Pedreira - poesia reunida - Quetzal, pág. 36)



Here We Go Again


Here we go again
He's back in town again
I'll take her back again
One more time
Here we go again
The phone will ring again
I'll be her fool again
One more time
I've been there before
And I'll try it again
But any fool knows
That there's no way to win
Here we go again
She'll break my heart again
I'll play the part

Recomeço ...




Recomeça....


Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.


(...) 

(Sísifo - Miguel Torga)