quinta-feira, 1 de abril de 2021

Foi assim que tudo começou

Foi assim que tudo começou. Por estes dias perdi a caneta. Aquela com que escrevo faz um ano. Sem ela não me faço entender. Só com ela, a minha letra se decifra e revela em frases limpas e arrumadas. Nunca gostei de falar. Não é a mesma coisa. Quem me quer tem que me ler. Colei um aviso a anunciar recompensa. Até agora ninguém respondeu. No correio, só duas mensagens a estranhar o meu silêncio. E uma conta para pagar. E folhetos coloridos que não recolho. Dias antes de perder a caneta recebi o teu postal. Nele escreveste: "Espero que este postal te encontre. E isso basta." E bastou. Por estes dias, já basta que nos encontrem. Qualquer adjetivo ou complemento que lhe adicionemos se revela desnecessário. Mas agora perdi o fio dos dias e perdi a caneta. Ou o contrário. Procurei por todo o lado. Debaixo dos papéis, escondida nos códigos, dentro da cama, na gaveta dos talheres. Será que alguém a levou por engano? Por certo a devolvem. É uma esferográfica normal. Só a mim serve. Mas sem ela não te consigo responder. Desculpa. Logo que a encontre prometo resposta pronta em letra esmerada debruada a correio azul.
Eva Niceday

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