terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Para 2014 ....

"Desejo

Desejo primeiro que você ame,...
E que amando, também seja amado.......
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa....
Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconsequentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar
E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exacta para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo
Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.
Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada
Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
“Isso é meu”
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem
Desejo também
Que nenhum de seus afectos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar
Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar"

Victor Hugo



sábado, 16 de novembro de 2013

Saudade

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

memórias e sentimentos inacabados




 Saudade

prolongamento artificial do momento.
Lágrima que transborda do olhar
que escorre devagar
que teimosamente quer regressar
onde não pode mais voltar.

Apenas o que resta dentro do peito
quando o abraço não é mais possível.
Ilustração em sépia
de uma viagem sem tempo
à nossa história interior
Acompanhada de uma ausência sentida.
 eNd

domingo, 10 de novembro de 2013

SE ...



Se o luar agora transbordasse
Da lua cheia e num enleio
Sua luz branda me abraçasse
E me fechasse dentro do seio...

Se o sol magnânimo soltasse
Um fio quente do seu cabelo
E no segredo me enrolasse
Do seu dourado novelo...

Se um astro agora me arrebatasse
Na sua luz e de repente
A minha sombra se iluminasse
E caminhasse na minha frente ...

Natália Correia


(Poesia Completa, Dom Quixote, pág. 133/134)



Tardávamos diante das palavras ...

 
Tardávamos diante das palavras, como se os olhos
fossem cegar sobre as páginas que não acabávamos
de ler só para fazer durar o engano, o livro, o tempo
de todas as leituras. Guardávamos silêncio
 
à cabeceira. E cruzávamos de noite os dedos
à procura da luz que emanasse de um seio, da onda
do cabelo sobre a orelha, dos ombros, da cintura,
do começo dos lábios. Normalmente, achávamos apenas
a sombra da roupa na curva dos joelhos, a penumbra
entre os nossos corpos quietos e deitados.
 
É nas linhas das mãos que os deuses escrevem
os mais belos romances. Nas nossas, porém, somente
elaboraram um divertimento, um esboço, um rascunho,
nem sequer literatura.
 
 
Maria do Rosário Pedreira
(poesia reunida, Quetzal, pá.63)
 
 
 
 
 
 

Arte Poética - José Luis Peixoto


o poema não tem mais que o som do seu sentido, a letra p não é primeira letra da palavra poema, o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma, poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil árvores ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não se escrevem, lê-se país e mar e céu esquecido e memória, lê-se silêncio, sim, tantas vezes, poema lê-se silêncio, lugar que não se diz e que significa, silêncio do teu olhar de doce menina, silêncio ao domingo entre as conversas, silêncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silêncio de ti, pai, que morreste em tudo para só existires nesse poema calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem. o poema não é esta caneta de tinta preta, não é esta voz, a letra p não é a primeira letra da palavra poema, o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não conhecia a palavra poema, quando eu não conhecia a letra p e comia torradas feitas no lume da cozinha do quintal, o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas e sem metáforas, que te amo, o poema será quando as crianças e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre e tudo. o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo o que quero aprender se o que quero aprender é tudo, é o teu olhar e o que imagino dele, é solidão e arrependimento, não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema, não é a raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos conhecer o que possuímos e não possuímos nada, não é um torrão de terra a cantar hinos e a estender muralhas entre os versos e o mundo, o poema não é a palavra poema porque a palavra poema é uma palavra, o poema é a carne salgada por dentro, é um olhar perdido na noite sobre os telhados na hora em que todos dormem, é a última lembrança de um afogado, é um pesadelo, uma angústia, esperança. o poema não tem estrófes, tem corpo, o poema não tem versos, tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se com grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e incertezas, a letra p não é a primeira letra da palavra poema, a palavra poema existe para não ser escrita como eu existo para não ser escrito, para não ser entendido, nem sequer por mim próprio, ainda que o meu sentido esteja em todos os lugares onde sou, o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos, o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe porque me olhas, o poema é o teu rosto, eu, eu não sei escrever a palavra poema, eu, eu só sei escrever o seu sentido.

Fado cantado ...


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

para avaliar do seu grau de solidão




Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência. 
             Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade. 
             Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio. 
             Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza. 
             Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância. 
             Solidão é muito mais do que isto. 
             
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma....  
              Francisco  Buarque  de  Holanda  

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Relax

boy u2 by annette steens


'Young soldier, what will you be At the day's end?'
'Tired's what I'll be. I shall lie on the beach
Of a shore where the rippling waves just sigh,
And listen and dream and sleep and lie
Forgetting what I've had to learn and teach
And attack and defend.'

Max Plowman


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Ninguém toma a sério" Paulo Portas (Mário Soares)


Presidente angolano anuncia fim da parceria estratégica com Portugal


15 de Outubro: o dia em que nos tornamos naquilo que somos

O teu presente :)



Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos. Uma só idade para nos encantarmos com a vida para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa..
Mário Quintana

Thank you, girls! 40 more!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pablito


Saber que os olhos ainda te abraçam
Quando a mão já não te pode alcançar
É um consolo descontente
Mas não deixa de ser um consolo.
AC

António Ramos Rosa (Faro, 17 de Outubro de 1924 - 23 de Setembro de 2013),







Para um Amigo Tenho Sempre

Para um amigo tenho sempre um relógio ...
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

in "Viagem Através de uma Nebulosa"

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Terra da Fraternidade



Decreto do Presidente da República n.º 92-D/2013. D.R. n.º 143, Suplemento, Série I de 2013-07-26
Presidência da República
São nomeados, sob proposta do Primeiro-Ministro, o Dr. Luís Miguel Gubert Morais Leitão Secretário de Estado Adjunto do Vice-Primeiro-Ministro, o Dr. Luís Álvaro Barbosa de Campos Ferreira Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, o Prof. Doutor Bruno Verdial de Castro Ramos Maçães Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, o Dr. José de Almeida Cesário Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, o Dr. Leonardo Bandeira de Melo Mathias Secretário de Estado Adjunto e da Economia, o Dr. Pedro Pereira Gonçalves Secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, o Dr. Sérgio Paulo Lopes da Silva Monteiro Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, o Mestre Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes Secretário de Estado do Turismo, o Dr. Paulo Guilherme da Silva Lemos Secretário de Estado do Ambiente, o Dr. Artur Álvaro Laureano Homem da Trindade Secretário de Estado da Energia, o Prof. Doutor Miguel de Castro Neto Secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, o Eng.º José Diogo Santiago de Albuquerque Secretário de Estado da Agricultura, o Prof. Doutor Francisco Ramos Lopes Gomes da Silva Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, o Prof. Doutor Manuel Pinto de Abreu Secretário de Estado do Mar, o Prof. Doutor Alexandre Nuno Vaz Baptista de Vieira e Brito Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, o Prof. Doutor José Alberto Nunes Ferreira Gomes Secretário de Estado do Ensino Superior, o Dr. Agostinho Correia Branquinho Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, o Dr. Octávio Félix de Oliveira Secretário de Estado do Emprego e a Dr.ª Vânia Carvalho Dias da Silva de Antas de Barros Subsecretária de Estado Adjunta do Vice-Primeiro-Ministro

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ah! Jazz!

Setembro - 19 horas
5 | Tora Tora Big Band | Parque das Conchas



 
12 | Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal | Largo de São Carlos





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Mar sonoro




Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen
(Obra Poética, pag. 80)

Swap: Juvenal Peneda admite ser 'responsável' por contratos da Metro do Porto


Diretor do Fantasporto rejeita acusações de ilegalidades na organização


Síria: Assad realizou ataque químico, mas houve erro de dosagem - secreta alemã


domingo, 1 de setembro de 2013

Murmúrio



“Oiço os murmúrios do sol. Saboreio o que sou.
Sou renovado pelo espaço, nasço num espaço verde.
O que eu amo está perto entre a terra e o ar."
 
António Ramos Rosa

sábado, 31 de agosto de 2013

someone once said...


O mar segundo Sophia

 
Mar

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua...

Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

«O Sporting é sempre uma equipa forte» (Jorge Jesus)


O último é para ti...



Le dernier carré (Milka), uma das mais criativas campanhas publicitárias dos últimos tempos tem marca portuguesa. E não é que o Miguel Durão fez alterar a linha de produção?

Chamar todo o céu com um sorriso*



O relógio marca um tempo que não é real. 
Os minutos já pararam de importar.
Reparas na minha mão esquecida sobre os teus cabelos 
enquanto, em silêncio, invento um poema de saudade.
É a despedida antecipada do amanhã que ainda não chegou.
Um gosto amargo que já repassa o corpo e a alma.
Faço um trato com o teu coração e nele gravo um recado:
Que eu possa ir junto dele, deixas?
Quero que saibas que sempre que olhas para mim
"chamas a ti todo o céu com um sorriso".

                                            ENd



* adaptação do título do poema de e. e. cummings (chamar a si todo o céu com um sorriso)

Hackers portugueses atacam 201 sites internacionais em menos de 24 horas


Milagres

      

"Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem amo,

ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim, (...)"


Walt Whitman

Mau feitio aumenta esperança de vida



Afinal o crime (existencial) também compensa...

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

UNICEF e ACNUR alertam: crianças refugiadas na Síria já são um milhão


aprendendo a seguir a trajectória do sol

Do nascente ao poente, 
sempre sem o perder de vista
volta-se para onde quer que o sol esteja;
segue os seus raios em busca do seu brilho 
certo da sua presença
 ainda que encoberta por uma nuvem cinzenta de um céu de inverno.
Capaz de captar a essência  luminosa e vibrante mesmo no meio da penumbra.
Assim é viver.
                                             ENd

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

há dias em que as palavras não bastam


em que o silêncio fere demais
as vozes são a mais
as conversas demasiado banais
e os gestos ofendem mais do que confortam.
Há dias em que o único som suportado
 é o rumor concertado 
de uma onda do mar,
e o único gesto com significado
é o abraço apertado
 de quem ao teu lado
acompanha o seu embalar.
                                                                 ENd






PS: Acompanha bem com o azul macio do mar, à hora das gaivotas  
       "Quando a maré desce / E tudo fica mais calmo "

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

escrevendo a gosto






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somos assim: um ponto a caminhar à frente de um quadrado,

sem medo de assumir formas originais.

quatro ângulos por fechar e um ponto que se desenrola agora numa recta,

um fio de infinito urgente numa ânsia efémera de fechar ângulos.

É bom ou é mau?

    Um dia como este será sempre hoje na nossa memória.
                                                                                     
                                                                                          ENd

breves notas sobre a memória


"Esquece as palavras por momentos.

(...)

 O que temos para dizer não pode ser dito.

(...)

O peso da minha mão sobre a tua. 

(...)

Não me perguntes quem sou.

 Não me perguntas nada.

 Eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

 Pousa os lábios sobre a página.

 Pousa os lábios sobre o papel. 

Devagar, muito devagar. Vamos beijar-nos."



in A Casa, a Escuridão, José Luís Peixoto

RAZÕES DE UM MUNDO MENOR


O medo, neste século, já não é um produto artesanal.
Os aviões bombardeiros
- ou, em tempo de paz, as falências imprevistas-
impressionam pela tecnologia posta em acção.
Hoje, passa-se fome de modo bem mais moderno
do que no século XVIII, por exemplo.
Gonçalo M. Tavares, Uma Viagem à Índia, Caminho, p. 155”

breves notas sobre o meu Norte


"É difícil vermo-nos a nós próprios, sei bem. Falta a perspectiva da distância, os espelhos distorcem, o rosto com que nos olham está sempre tingindo pela cor que trazem por dentro. É também por isso que me faz tanta falta o meu lugar. Sem ele, talvez acreditasse no primeiro reflexo que me apresentassem. Sem ele, talvez dependesse desses humores para imaginar quem sou.

Assim, estou preparado para atravessar o mundo inteiro. E, se mais mundo houver, mais mundo será tocado pela minha pele. Mi-nha pe-le, palavras pronunciadas sílaba a sílaba. E nenhum continente é demasiado grande ou demasiado estéril para me impedir de atravessá-lo. E nenhum detector de metais conseguirá identificar o tamanho e os ângulos do lugar que levo comigo: amor. Repito: amor.

Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso."



O meu lugar
José Luís Peixoto, in revista Visão (Agosto, 2013)




PS: ainda rodo sobre mim própria...

Lets go party!

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18 dom / sun / dom / dim


17H

meo out jazz


the seven hills
city rockers


parque eduardo VII


19H

CLÁSSIC OS NA RUA


METROPOLITANA
Trio de
Percussões


PARQUE EDUARDO VII
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Breve nota sobre percursos infinitos






"do tempo ao coração mas com pausa na pele"
                                                                       David Mourão Ferreira

domingo, 30 de junho de 2013

Poesia Matemática de Millôr Fernandes ou cala-te para sempre corrector

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Texto extraído do livro "
Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número, publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

definição de felicidade (em modo snapshot):


                    o teu olhar fixo no meu no instante em que, em silêncio, os segredos se revelam.
             

domingo, 16 de junho de 2013

David Mourão-Ferreira (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996)


«Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele»

David Mourão-Ferreira
 
 

sexta-feira, 31 de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Aos que, apesar de tudo, ainda se arriscam a ser vulneráveis...

Parabéns a todos aqueles que falham, esses são os que arriscam. 

Parabéns a todos aqueles que inovam, esses são os que arriscam. 

Parabéns a todos aqueles que mudam, esses são os que arriscam.

Parabéns a todos aqueles que caem, esses são os que arriscam.

Parabéns a todos aqueles que criam, esses são os que arriscam.


Parabéns a todos aqueles que quebram paradigmas, esses são os que arriscam.


Parabéns a todos aqueles que arriscam, esses são os vulneráveis.


Parabéns a todos os vulneráveis, esses são os corajosos.



Mário Caetano

o verdadeiro perigo


"Take nothing but memories, leave nothing but footprints"


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Não se passa nada...

Não se passa nada. Não abraço as árvores com amor universal, não sinto raiva por sentir os meus pés sobre mim, não me atrapalho com o equilíbrio precário dos pasos dos outros, não me sinto cavalo sem freio e sem direcção, com trote violento e coices que só a mim me acertam.

Não se passa nada. Não me sinto presa na minha ausência de vida, não me alegro pateta com SMS em cascata, não me esgoto nas horas de vício com fumo ou com net, não lamento a falta de amor e de ódio, de lentes bem focadas no presente ou de risos sem razão, mas com fundamento.

Não se passa nada. Não me altera o mau cheiro do espírito das gentes, a alienação nos bancos do metro, onde há caras, mas raramente se vêem corações. Não me perturbam nada os passos apressados para lado nenhum, a falta de oxigénio no quotidiano, a falta de fibra no momento do combate, as desculpas cobardes e filosóficas para a inércia, os momentos zen que não passam de paralisia e a serenidade que não passa de Buda de 3ª categoria injectado no 3º olho.

Não se passa nada. Não me indigna que se passem atestados de estupidez constante a quem aspira a algo mais que crédito ao consumo, salário à medida e conforto mundano, ou que não se ponham os olhos no céu em vez de juntar a cabeça às patas no chão.

Não se passa nada, só eu é que me passo de vez em quando.