domingo, 23 de maio de 2021
Página 225
Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que me sento na cama, distraída, a dobrar demoras
e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.
Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por
causa dos outros laços que não desfaço, sei que o
amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se
o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso
sempre, mas não demais; e que os invernos que ele
não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos
separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,
mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,
diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.
Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida, Quetzal poesia
O que fazem as mães ?
o que fazem as mães ?
abrem caminho
mas abrem caminho
cegamente
não conhecem o túnel
o destino
a sombra que as enreda
mais à frente
T.K. Centeno, Cem Poemas Portugueses no Feminino, Terramar, pág, 149