domingo, 23 de maio de 2021

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Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou;

que me sento na cama, distraída, a dobrar demoras

e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.

Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por 

causa dos outros laços que não desfaço, sei que o 

amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se


o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;

que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso

sempre, mas não demais; e que os invernos que ele

não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos

separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,

mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires, 


diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.



Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida, Quetzal poesia

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